Nota: Este é um espaço onde o julgamento fica à porta. A intenção não é justificar nem condenar, mas criar um lugar de empatia e reflexão para mulheres que vivem dilemas que muitas vezes são tão solitários quanto complexos.
Conheci a Joana (nome fictício) através do Instagram da revista. Ela tinha lido um dos artigos da Mamacita sobre casamentos infelizes e, num impulso de coragem, decidiu enviar-me uma mensagem. A conversa inicial foi breve, mas carregada de significado, e acabou por desaguar na ideia de escrevermos esta entrevista. A Joana queria partilhar a sua história não para procurar absolvição, mas para ajudar outras mulheres que possam estar a passar por algo semelhante.
A Joana é casada há mais de 15 anos e tem dois filhos. O marido, com quem construiu uma vida aparentemente perfeita, é carinhoso, presente, e um excelente pai. "Não posso dizer que me falta algo essencial. Mas o essencial nem sempre é suficiente", disse ela, como se tentasse justificar para si mesma o início do que veio a acontecer.
Ele entrou na sua vida de forma inesperada. Era colega de trabalho de um cliente. O nome dele é Miguel (nome também fictício). Começou com pequenos almoços de trabalho, conversas que fluíam naturalmente e uma sensação de conforto que, nas palavras dela, "me fez sentir vista de uma forma que já não sentia". O Miguel é também casado e pai de três filhos. "Sabíamos, desde o início, que estávamos a pisar terreno perigoso. Mas éramos demasiado teimosos ou talvez demasiado cegos para parar."
A relação transformou-se em algo mais intenso numa noite depois de um jantar de trabalho. "A tensão já estava lá há meses, mas ambos fazíamos um esforço titânico para não atravessar a linha. Até que atravessámos. E não conseguimos voltar atrás."
O Começo do Caso e os Sentimentos Envolvidos
"Nunca foi algo planeado ou consciente. Eu não acordei um dia a pensar: 'Hoje vou trair o meu marido'. Foi como se algo maior do que eu me levasse por um caminho que, embora soubesse ser errado, parecia inevitável."
Perguntei-lhe o que sentiu naqueles primeiros momentos do caso. "Era como um mundo paralelo, onde tudo era mais vibrante, mais intenso. Ele fazia-me rir, fazia-me sentir desejada. Há anos que não me sentia assim tão viva."
Mas a vivacidade tinha um preço. A Joana descreveu o sentimento de culpa como um peso constante, algo que nunca a abandonava. "Há momentos em que me sinto uma péssima pessoa, uma mulher horrível. Mas depois volto a estar com ele e esqueço-me de tudo. Parece uma espécie de vício."
Porquê Continuar?
Perguntei-lhe por que não acaba com o caso. A resposta foi um misto de hesitação e honestidade. "Porque ele me completa de uma forma que o meu marido não consegue. Mas, ao mesmo tempo, não quero perder a minha família. Não quero destruir tudo o que construímos. Sei que parece contraditório, mas é a realidade em que vivo."
Deixar o marido também não é algo que consiga aceitar dentro de si. "Ele é um bom homem, é um excelente pai, e eu gosto dele. Talvez não seja a paixão arrebatadora que sentia no início, mas é amor. E eu valorizo isso."
Expectativas
Perguntei-lhe o que sente quando volta para casa depois de estar com o Miguel. A Joana respondeu. "Sinto-me dividida. Quando entro em casa e vejo os meus filhos, lembro-me de tudo o que tenho a perder. Mas, ao mesmo tempo, é como se houvesse uma parte de mim que estivesse em suspenso, à espera do próximo momento com ele. É uma montanha-russa emocional."
E quanto ao Miguel? Como é que ele encara esta situação? "Ele também se sente culpado, mas é diferente. Sempre disse que não iria abandonar a família dele, e eu nunca pedi isso. Acho que ambos sabemos que estamos a viver algo temporário, mas é tão intenso que se torna impossível de largar."
Perguntei se alguma vez consideraram terminar tudo. "Sim, muitas vezes. Houve momentos em que tentámos afastar-nos. Mas acabamos sempre por voltar. Parece que temos um magnetismo que não conseguimos controlar."
Gerir Dois Mundos
"Às vezes sinto que estou a viver duas vidas. A Joana que sou com o meu marido é diferente da Joana que sou com o Miguel. E não sei qual das duas é a verdadeira. Talvez sejam ambas, e isso é o que me assusta mais."
A Joana descreveu a dificuldade de manter este equilíbrio. "Há dias em que a ansiedade me consome. O medo de ser descoberta é constante. Mas depois penso: e se for descoberta? Será que isto é o que eu preciso para finalmente decidir? Ou será que destruirá tudo o que mais amo na minha vida?"
O Impacto na Vida Diária
Perguntei-lhe como consegue gerir as emoções no dia a dia, especialmente em casa? "Nem sempre é fácil. Há dias em que me sinto completamente exausta emocionalmente. Tento focar-me nos meus filhos, no trabalho, em tudo o que me mantém ancorada. Mas a verdade é que este caso ocupa muito do meu pensamento, mesmo quando não quero."
Questionei-a se sente que mudou como pessoa desde que tudo começou. "Sim, sem dúvida. Antes, eu era mais simples, mais previsível. Agora sinto-me mais confusa, mais intensa. Talvez até mais egoísta. Não sei se é uma coisa boa ou má, mas mudou-me."
Um Espaço Sem Julgamento
Ao terminar a conversa, perguntei-lhe o que gostaria de dizer a outras mulheres que possam estar numa situação semelhante. "Que não estão sozinhas. Que esta é uma luta interna que só quem passa por ela consegue compreender. E que, por mais que pareça, não há soluções fáceis. Apenas caminhos que temos de escolher com coragem e com o coração na mão."
Esta é a história da Joana, uma história que não cabe em preto e branco, mas que vive numa escala de cinzentos onde o amor, a dor, a culpa e o desejo se entrelaçam. Aqui, neste espaço, o objetivo não é julgar, mas sim refletir. Afinal, todas temos as nossas batalhas e, em cada uma, um pouco de todas nós.